Vasco

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sábado, 9 de março de 2013

O 'ALMIRANTE' A LENDA DO RÁDIO

O grego Platão, que viveu entre 427 a 348 antes de Cristo, elucubra, em seu diálolgo 'Fedro', sobre retórica e amor sensual, que o inventor da escrita teria sido censurado, por encaminhar o homem para o descuido com a mente. Quando o CARINHA assistia aos jogos horrorosos de futebol, pela TV, lembrava-se das contendas nas quais a sua mente deixava-o à beira do gramado, "vendo o jogo, ouvindo na Rádio Globo", com Waldir Amaral gritando: "Dez é a camisa dele!". Também, com Celso Garcia, pela mesma emissora, mandando o garoto do placar colocar um novo número nos antigos marcadores de madeira. E quando José Cabral dizia que "A nega tá lá dentro! É bola no filó!". Ele 'via' tudo aquilo. Como 'via' Fiori Giglioti abrindo as cortinas e fechando o espetáculo, pela Rádio Bandeirantes, ou o Orlando Baptista, ordenando ao árbitro Aírton Vieira de Moraes, pela Mauá: "Bota a bola no meio, Sansão!", o apelido do homem.
Houve um jogo, em 2 de março de 1961, quando Alberto da Gama Malcher apitou, o Santos goleou o Vasco, por 5 x 1 – do seu ataque arrasador, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe – só "ELE" não fez gol. Até Zito, que não tinha a obrigação de balançar a rede, balançou, daquela vez, no Pacaembu. Rodava tudo, como um filme, na mente do CARINHA, inclusive o gol cruzmaltino, do Lorico. Ele'assistia', perfeitamente, Miguel, Bellini, Coronel, Paulinho, Brito, Écio, Sabará, Delém, Pinga (Wilson Moreira), Lorico e Da Silva, além do treinador Paulo Amaral, saindo tristes de campo, enquanto Laércio, Mauro (Formiga), Dalmo, Fiote, Calvet, Zito, Dorval (Sormani), Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe sorriam. Era como se o cara citado por Platão não tivesse, ainda, inventado nada. O rádio decodificava bem as imagens do CARA.
ELE já dominava escrita e mente, e estaria a salvo de censuras, se fosse um grego tão antigo. Lembrava-se, também, ter transformado o dois de abril de 1961 em um dia interminável, 'vendo' o cruzmaltino Delém abrindo o placar, aos 24 minutos do primeiro tempo, Gerson empatando, aos 42, e Babá virando o jogo, para o Flamengo, aos 15 da etapa complementar. Bem distante, geograficamente, o CARINHA estava na arquibancada do Maracanã, ouvindo José Monteiro apitar e Martim Francisco gritar para Ita, Paulinho, Bellini, Barbosinha, Coronel, Écio, Lorico, Sabará, Delém (Cunha), Pacoti (Joãozinho) e Da Silva, enquanto o feiticeiro paraguaio Fleitas Solich fazia o mesmo para os rubro-negros Ari, Joubert, Bolero, Jadir, Jordan, Carlinhos, Gerson, Babá (Oton), Henrique, Dida e Germano.
Outra passagem límpido pela 'visão radiofônicamente' DELE fora o espetáculo poporcionado por Ita, Paulinho, Bellini, Coronel, Écio, Barbosinha, Sabará, Lorico, Wilson Moreira, Roberto Pinto e Pinga (Da Silva), ainda treinados por Martim Francisco, e pelos santistas Lalá, Mauro, Dalmo, Jorge (Getúlio), Calvet, Urubatão, Dorval, Mengálvio, Álvaro (Sormani), Pelé (Tite) e Pepe, em 13 de abril de 1961, no Maracanã, com gols de Sabará, Wilson Moreira e Pepe. Três dias depois, numa tarde domingueira, no Pacaembu, o Vasco mandara 2 x 0 no Corinthians, do técnico Alfredo Ramos. Mais tarde, ele vira numa daquelas revistas que os aviões da Panair e da Real deixavam no aeroporto de sua cidade, uma foto do goleiro vascaíno Ita caindo e observando a bola saindo pela linha de fundo. O filme do lance passava em sua mente em tempo real. Daquela partida, apitada por Armando Marques, o herói fora Roberto Pinto, marcando gols aos 36 minutos do 1º tempo e aos 39 do segundo. O dedo do técnico Martim Francisco funcionara legal contra os corintianos Cabeção, Jaime, Olavo, Ari Clemente, Sídnei, Oreco, Bataglia (Egídio), Joaquinzinho (Zague), Miranda, Rafael e Neves (Gelson). Por fim, a máquina da memória dele deixara-o um cidadão acima de qualquer censura grega, em 22 de abrilde 1961, quando o zagueiro Russo marcara um gol contra, aos cinco minutos do primeiro tempo, e a turma de São Januário vira o Palmeiras ser campeão do Torneio Rio-São Paulo, no Pacaembu, em jogo apitado pelo carioca Wilson Lopes de Souza.
Pensava o vascaíno: que me desculpe Platão e os seus amigos Sócrates e Aristóteles, da Academia de Atenas – primeira instituição de ensino superior do mundo ocidental. Se ele lançasse 'Fedro', na próxima edição Bienal do Livro, e nós viajássemos no tempo, ele lhe sugeriria contestar os deuses da Grécia Clássica. Pelo menos, sobre os tempos do ludopédio mentalizado pelo rádio.

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