Vasco

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sábado, 1 de abril de 2017

KIKE EDITORIAL-17, OU O VENENO DO ESCORPIÃO - UMA BOSSA MAIS NOVA

  Em  1958, os norte-americanos Paul Anka, Little Richard, Jerry Lee Lewes e Chuck Berry  enchiam os oritimbós dos jovens brasileiros de rock´n´roll. A turma vibrava e começou a formar conjuntos, como The Snack, que ensaiava no Snack Bar, na esquina das ruas Raul Pompeia e Francisco Sá, no Posto 6 da carioquíssima Copacabana, ponde a “puliça” sempre pintava, chamada pelos moradores do prédio, incomodados com a zueira da rapaziada.
"Chega de Saudade" derrubou as breguices da
liderança da música popular brasileira 
  Numa daquelas noites de agito, um baiano chegou por lá, passou pelo meio das lambretas da moçada, arrepiou-se com o som que saía da calçada e subiu até o oitavo andar, onde morava um sujeito sofisticadíssimo. E mostrou-lhe o disco, em 78 rotações por minuto (rpm) que acabara de gravar e ainda não estava à venda.
 Como o som que subia do bar não permitia audição alguma na casa do visitado, e os “home” não chegavam, o anfitrião pegou aquelas bombinhas chamadas por “cabeça-de-negro” e convocou o visitante a ajuda-lo explodi-las na cuca dos roqueiros. Proposta aceita, eles iniciaram o bombardeio expulsaram os zuadentos do pedaço – estava liberada a audição para o surgimento da Bossa Nova.
 Disco na vitrola, o anfitrião e sofisticado cantor de elite  Lúcio Alves ficou impressionado com o que ouvira. Lá embaixo, entre os expulsos da calçada,  estavam os futuros “cobras” Tim Maia e Roberto Carlos, que ensaiavam com o The Snack.  Lá em cima, o visitante chamava-se João Gllberto, que deixou o visitado embasbacado, ouvindo “Chega de Saudade” (de Tom Jobim e Vinícius de Morais) e “Bim-bom” (dele).
Antes do João gravar o  78 rpm mostrado ao Lúcio, um carinha “durango kid” da turma, chamado Tom Jobim, procurara Ivon Cury para oferecer-lhe “Desafinado”, mas este não topou, e a música foi parar no vocal do vascaíno “João de Juazeiro”, que mandou uma  “vocalada” que mais parecia um sussurro. Terrível desencontro com a sua “violonada”. 
Raridade , dificílima de ser encontrada em vinil

  Também antes, no mesmo 1958,  Elizeth Cardoso gravara o LP (tempos do vinilzão) “Canção de Amor Maior”, com 12 composições do Tom e do diplomata Vinícius de Morais, a quem  Itamaraty vivia pegando no pé, por cuidar mais de sambistas do que das relações exteriores do país. Na faixa “Chega de Saudade”, Elizeth era acompanhada pelo "João Baiano". Como o disco não vendera nada, três meses depois, em outubro, ele gravou a mesma composição, mas com o seu seito estranho de cantar. Resultado: pelo final do ano, já disputava o primeiro lugar das paradas de sucesso, com as breguices do seu conterrâneo Anísio Silva – Bossa Nova na calçada.
Pois bom, meu rei! Como o samba havia nascido carioca,  no quintal da casa da baiana Tia Ciata – vai fazer 177 temporadas –, a Bosa Nova, também, nasceu carioca. Mas parida por um baiano – entre bombas e rock.              

 

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